sábado, 6 de março de 2010

Concorrência do Google cresce em meio a problemas judiciais da companhia

06/03/2010 - 08h02
Concorrência do Google cresce em meio a problemas judiciais da companhia

MARCO AURÉLIO CANÔNICO

editor do Folhateen da Folha de S.Paulo

"Don't be evil" (não seja mau) é o lema informal do Google. Mas não são poucos os que atualmente duvidam que a empresa consiga conciliar essa filosofia empresarial com sua posição de dominação na internet e sua crescente ambição.

Para expandir seus domínios, o Google cedeu à censura na China (para entrar no país, em 2006), ignorou direitos autorais de livros (com o Google Books), vídeos e músicas (com o YouTube) --em ambos os casos, foi processado e fez acordos, mas ainda não resolveu as questões em definitivo-- e desrespeitou a privacidade dos internautas (ao impor o Google Buzz aos usuários do Gmail).

Ainda assim, viu competidores de internet crescerem por todos os lados (e reagiu, em diversos casos, com métodos considerados monopolistas e ilegais). Mesmo naquilo que fez sua fama --seu mecanismo de busca--, perdeu terreno.

Hoje, a busca do Google, apesar de ainda ser a mais usada, não é necessariamente o meio mais eficiente de encontrar informação. Uma pergunta lançada no site gera grande quantidade de resultados.

Se a mesma pergunta for feita por meio de redes sociais como o Facebook ou o Twitter, os resultados podem ser mais confiáveis e selecionados, vindo de contatos conhecidos.
"O Google sabe disso e se preocupa com as redes sociais", disse Ken Auletta, autor do livro "Googled: The End of the World As We Know It" ("googlado", o fim do mundo como o conhecemos), em entrevista ao "Wall Street Journal".

Google na política
Um reflexo dessa preocupação pode ser visto no considerável aumento dos gastos da empresa para defender seus interesses políticos.
De acordo com números do Senado dos EUA, compilados pelo site Google Watch, o Google quase dobrou seus gastos com lobby em 2009 --US$ 4 milhões, contra US$ 2,84 milhões em 2008; o valor também é quase o triplo do de 2007 (US$ 1,52 milhão).

É claro que a empresa não é a única a gastar dinheiro defendendo seus interesses em Washington; a Microsoft, por exemplo, mesmo encolhendo drasticamente seus gastos com lobby no ano passado, ainda assim torrou US$ 6,72 milhões.

O lobby do Google é direcionado a questões ligadas à privacidade, leis de copyright e competitividade em anúncios on-line. Boa parte do dinheiro foi gasto na defesa de seu projeto Google Livros (Books), que pretende digitalizar cópias de 10 milhões de livros até 2015 (a um custo de US$ 200 milhões).

Já em seu lançamento, em 2005, o projeto foi acusado de infringir "massivamente" os direitos autorais; processado, o Google chegou a acordo com autores e editoras nos EUA.
Mas a negociação foi denunciada pelo Departamento de Justiça dos EUA e pela concorrência (Amazon, Apple, Yahoo!) por ser ampla demais, favorecendo um monopólio do Google sobre os livros digitais.

O acordo foi, então, revisado, mas o caso não foi solucionado. "Apesar do esforço das partes para melhorar o acordo inicial, muitos dos problemas identificados persistem", informou o

Departamento de Justiça.

UE entra na briga
Outra questão é que o acordo foi feito apenas com as partes norte-americanas, o que desagradou a União Europeia (que tem seu próprio projeto de biblioteca digital, a Europeana).
A UE pretende ver o Google negociando separadamente com cada editora, para garantir que não sejam violadas leis de cada país. A França, por exemplo, já processou a empresa, em dezembro passado, para impedir a digitalização de livros.

Além disso, um inquérito do órgão antitruste da UE, aberto no mês passado, investiga reclamações de que o gigante da internet manipula o resultado de buscas por seus concorrentes, colocando-os mais abaixo na página de resultados de pesquisa de seus sites. O Google negou violar as leis ou agir para sufocar a competição.

Por fim, a empresa viu três de seus executivos serem condenados pela Justiça italiana, na semana passada, por terem permitido que um vídeo que mostra um adolescente autista sendo maltratado fosse colocado no Google Video, em 2006.

E, nesta semana, um dos parceiros do Google também passou a ser atacado. A Apple entrou na Justiça contra a fabricante de celulares HTC, de Taiwan, afirmando que a companhia quebrou cerca de 20 patentes do iPhone. A HTC, que ainda não se manifestou sobre o caso, foi a primeira empresa a fabricar celulares baseados no sistema Android, do Google.

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